Inteligência Artificial, Genômica e Terapia Focal: A Nova Era do Tratamento Personalizado para o Câncer de Próstata Localizado

Las Vegas, Abril 2025

Las Vegas. AUA 2025

Por Dr. Bruno Benigno | Urologista Oncológico | Especialista em Cirurgia Robótica e Terapia Focal

A maneira como diagnosticamos e tratamos o câncer de próstata está passando por uma transformação silenciosa — mas profundamente impactante. O que antes se baseava quase exclusivamente em PSA, toque retal e biópsia tradicional, agora avança para um cenário de medicina personalizada, impulsionado por inteligência artificial, genômica e novas estratégias de tratamento como a terapia focal. Neste artigo, exploro os principais avanços apresentados recentemente em congressos internacionais e como eles podem beneficiar diretamente os pacientes com câncer de próstata localizado.

1. A Nova Estratificação de Risco: Muito Além do PSA e Gleason

Por décadas, a classificação de risco do câncer de próstata se baseou em ferramentas clínicas tradicionais como o estadiamento TNM, o grupo de grau de Gleason, o PSA e o percentual de biópsias positivas. No entanto, essas ferramentas têm limitações prognósticas. As diretrizes mais recentes, como as da NCCN 2025, recomendam incorporar tecnologias mais precisas, incluindo análises genômicas, marcadores circulantes e algoritmos de IA, para refinar a estratificação e orientar melhor a escolha terapêutica.

2. Inteligência Artificial: Uma Revolução na Imagem e na Patologia

A IA já é uma realidade na análise de ressonância magnética (RM) da próstata. Estudos recentes mostraram que o volume tumoral intraprostático calculado por IA é um preditor mais eficaz de metástase do que as categorias de risco convencionais. Em pacientes submetidos à radioterapia, a IA alcançou AUC de 0,84, superando a performance da classificação NCCN.

A patologia digital também vem ganhando força. Combinada a algoritmos de IA, ela permite análises mais objetivas e reprodutíveis das biópsias, superando limitações como a variabilidade entre patologistas.

3. Classificadores Genômicos: Risco sob Medida

Ferramentas como o Decipher® são hoje um dos pilares da medicina de precisão no câncer de próstata. Com validação em mais de 50 mil pacientes no mundo real, esses testes conseguem prever o risco de metástase com base na assinatura genética do tumor, independentemente de outros parâmetros clínicos.

Uma análise combinando risco clínico e genômico gerou taxas de metástase em 10 anos de apenas 3,5% nos grupos de menor risco, e até 54,6% nos de maior risco, reforçando seu papel na tomada de decisão.

4. A Força da Combinação: IA + Genômica

Estudos recentes demonstram que a integração entre IA em patologia digital e classificadores genômicos oferece o modelo prognóstico mais poderoso até o momento. Cada ferramenta fornece informações complementares, melhorando a personalização do tratamento, inclusive em decisões sobre vigilância ativa ou intensificação da terapia hormonal.

5. Terapia Focal: Uma Nova Opção para Evitar Overtreatment

Para pacientes com câncer de próstata localizado de risco intermediário, a terapia focal (FT) surge como uma abordagem promissora. Ela trata apenas a lesão visível, preservando o restante da próstata — o que pode manter a continência urinária e a função sexual em muitos casos.

Apesar dos avanços, a FT não substitui cirurgia ou radioterapia. É indicada principalmente para pacientes que não são bons candidatos à vigilância ativa, mas ainda desejam evitar tratamentos radicais.

Destaques importantes:

• Modalidades como HIFU, TULSA e eletroporação irreversível estão em uso crescente.

• Tecnologias como espectroscopia de RM e IA estão sendo estudadas para melhorar o direcionamento da ablação.

• A sobrevida livre de recidiva em 3 anos pode variar de 40% a 85%, dependendo do risco tumoral.

6. Casos de Alto Risco: Como Otimizar o Tratamento?

O manejo dos pacientes de alto risco continua sendo um desafio. Um estudo recente comparou cirurgia com radioterapia e encontrou menor taxa de metástase em 8 anos com radioterapia (16% vs 26%).

Além disso, testes como o PORTOS permitem prever quem se beneficiará do aumento da dose de radioterapia, ajudando a ajustar o tratamento de forma personalizada.

7. O Futuro é Agora: Personalização e Precisão

A era da "medicina imprecisa" está sendo substituída pela medicina de precisão. A combinação de IA, genômica e novas modalidades de imagem permite:

• Evitar tratamentos desnecessários, como terapias hormonais prolongadas.

• Individualizar o plano terapêutico com mais segurança.

• Reduzir efeitos colaterais e preservar qualidade de vida.

No entanto, barreiras práticas — como custo, acesso a tecnologia e padronização — ainda limitam a adoção ampla dessas ferramentas.

Conclusão: Estamos Prontos para a Prática Personalizada?

A incorporação de inteligência artificial, biomarcadores genômicos e terapias menos invasivas representa um avanço real no cuidado com o câncer de próstata. Embora ainda existam desafios na validação e implementação, a direção é clara: tratar melhor, com menos.

A medicina de precisão não é mais promessa. É presente — e pode fazer toda a diferença na jornada do paciente.

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Dr. Bruno Benigno | Urologista | CRM SP 126265 | RQE 60022

Equipe da Clínica Uro Onco - São Paulo - SP