A próstata é uma glândula do tamanho aproximado de uma noz, presente apenas no sistema reprodutor masculino. Funciona como um conector seletivo entre os ductos que conduzem os espermatozóides e o sistema de drenagem da bexiga. Através da próstata passam a uretra e o ducto ejaculador, que se unem desembocam no pênis.
Também conectadas à próstata temos duas estruturas para armazenamento de nutrientes aos espermatozoides, conhecidas como vesículas seminais.
A próstata e as vesículas seminais tem a função de produzir nutrientes, lubrificantes e uma substância anticoagulante, o PSA. Juntos, facilitam a motilidade e a proteção dos espermatozoides.
A partir dos 50 anos de idade, o risco de desenvolver o câncer de próstata aumenta gradativamente. Por essa razão, avaliação periódica anual para o rastreamento da doença é de fundamental importância para o diagnóstico precoce. (1)
1- O que é prostatite e como surge nos homens?
Prostatite é uma inflamação no tecido da próstata, podendo ser causada por um agente infeccioso (bactéria ou fungo) ou agente traumático. Pode se manifestar em forma aguda ou crônica.
Infecção bacteriana aguda da próstata, conhecida pelos médicos como prostatite aguda, é uma condição mais frequente em homens acima de 40 anos. Começa quando uma bactéria na urina invade o tecido da próstata.(2)
Os antibióticos são a forma mais comum de tratamento. Caso a infecção na urina não seja controlada, a prostatite pode tornar-se severa e evoluir para um quadro mais grave, conhecido como sepse.
Existem formas de prostatite causadas por agentes físicos, como radioterapia, manipulação cirúrgica ou trauma. Abaixo listamos os principais fatores de risco para a prostatite aguda bacteriana:
homens entre 35 e 55 anos
ter tido um episódio de prostatite no passado
ter uma infecção ativa na bexiga ou uretra
histórico de trauma na região da bacia
uso crônico de cateteres para drenagem na urina através da uretra
pacientes com HIV ou outras condições e diminuam ação do sistema imunológico
procedimentos invasivos, como a biópsia de próstata.
Agentes como bactérias ou fungos podem infectar a próstata e provocar um quadro de inflamação aguda.(3) Existem outras causas raras de prostatite, por exemplo em pacientes que foram submetidos a radioterapia para tratamento de doenças no intestino grosso ou na própria próstata.
A bactéria pode chegar na próstata através do contato direto com a urina ou através da corrente sanguínea.
2 - Sintomas da doença e os exames que são feitos para diagnosticar o problema
Principais sintomas da prostatite aguda são:
dor ou sensação de ardência durante a micção
urinar com frequência, particularmente pela noite
urgência incontrolável para urinar
urina turva
sangue na urina
dor abdominal, nas costas ou na região da virilha
desconforto na região do pênis e testículos
ejaculação dolorosa
sintomas semelhantes aos de uma gripe, nos casos de prostatite bacteriana
Em alguns casos, homens com prostatite crônica podem não apresentar qualquer sintoma. Neste caso, o urologista pode suspeitar da existência de prostatite através da alteração dos níveis de PSA no sangue.
Homens sem sinais de prostatite aguda, mas que apresentem alterações nos níveis de PSA podem ser submetidos a uma biópsia da próstata, dada a suspeita da existência de um câncer.
3 - Como diferenciar o tipo agudo e o crônico?
A prostatite aguda é um quadro que requer cuidado médico imediato, podendo necessitar internação hospitalar para antibióticos intravenosos. Felizmente a grande maioria dos casos pode ser tratado com repouso domiciliar, líquidos em abundância e antibióticos por via oral.
A prostatite aguda se diferencia do quadro crônico por por apresentar um quadro rico em sintomas e que pode evoluir rapidamente para piora progressiva no estado geral do paciente.
Os casos mais graves podem levar a um quadro conhecido por septicemia, que é a circulação de bactérias em grande quantidade na corrente sanguínea. Este quadro requer internação hospitalar e em casos mais graves cuidados em UTI.
Já a prostatite crônica costuma ter uma apresentação gradual e pode persistir por muitos meses, através de sintomas como desconforto ao urinar leves ou moderados. Alguns homens podem apresentar um quadro de sintomas inespecíficos, como dor na região do períneo (região entre a bolsa escrotal e o ânus), bolsa escrotal ou parte inferior do abdômen.
Muita das vezes um simples exame de urina pode não identificar a presença de bactérias, resultado conhecido como falso negativo. Nesta situação o urologista pode lançar mão de um teste e o jato médio de urina, coletado logo após um exame de toque retal, feito no próprio consultório. Essa estratégia pode aumentar a concentração de bactérias detectáveis pelo exame de urina, diminuindo assim a possibilidade de exames falso-negativos.(4)
4 - Quais são as formas de tratamento que estão disponíveis para a condição?
A prostatite bacteriana aguda é tratada com a utilização de antibióticos com alto poder de penetração no sistema urinário ( as quinolonas são as classes de antibióticos mais utilizados, como a ciprofloxacina).
O tempo de utilização médio de antibióticos é de aproximadamente 3 há 4 semanas.
Uma análise minuciosa da urina do paciente deve ser realizada, com objetivo de Identificar qual tipo de bactéria é responsável pelo quadro, assim como avaliar um painel de possíveis antibióticos que podem ser usados em cada caso.
A tuberculose urinária é uma causa rara de prostatite e felizmente pouco frequente em nosso meio.(5,6)
O diagnóstico de tuberculose urinária é feito através de uma análise de quatro a cinco amostras diferentes de urina, assim como a incubação do material em meios de cultura específicos para pesquisa do bacilo da tuberculose.
O tratamento pode durar de seis meses a um ano e segue um protocolo muito parecido ao indicado para a tuberculose pulmonar.
5 - Prostatite tem cura? Pode estar relacionada ao câncer ou infertilidade?
Felizmente, tanto a prostatite aguda quanto crônica possuem altas taxas de cura. Não há evidências na literatura médica indicando que a prostatite possa levar ao surgimento do câncer de próstata. Entretanto, é muito frequente a identificação de áreas de prostatite crônica ao redor de focos de câncer de próstata em fragmentos de biópsia.
É possível que haja uma correlação de risco entre prostatite crônica e doenças malignas, mas essa informação ainda necessita confirmação por estudos científicos mais consistentes.
A prostatite pode levar as sequelas definitivas como infertilidade, uma vez que a destruição completa das pequenas glândulas no interior da próstata pode levar à diminuição permanente na produção de nutrientes e lubrificação necessários a manter a vitalidade dos espermatozóides.
A prostatite aguda é uma condição rara em homens com menos de 45 anos, o que diminui a relevância clínica do impacto na fertilidade em casais que costumam não ter mais intenções de ter filhos.
Caso haja a intenção de manter a fertilidade, a opção de congelação de espermatozoides é uma estratégia que pode ser discutida de forma individualizada com cada homem.
As principais complicações de um episódio de prostatite são listados abaixo:
Infecção bacteriana na corrente sanguínea, septicemia
inflamação do testículo e do epidídimo
abscesso dentro da próstata ( formação de uma cavidade cheia de pus)
alterações na qualidade do sêmen ou até mesmo infertilidade, mais frequentes nos casos de prostatite crônica
Não há evidências conclusivas na literatura médica mostrando que episódios recorrentes ou agudos de prostatite estejam relacionados com o surgimento do câncer de próstata ou hiperplasia benigna (aumento do volume).(7)
Não existe confirmação científica até o momento que comprove a relação direta entre prostatite e níveis de stress. Contudo, sabemos que níveis crônicos de estresse, sono de má qualidade e sedentarismo são condições que podem impactar no nível de atividade do sistema imune, podendo levar o indivíduo a ficar mais propenso a manifestar doenças infecciosas.
A prostatite aguda ou crônica não são consideradas doenças sexualmente transmissíveis. porém recomenda-se em período de abstinência sexual durante o tratamento.(8)
Por:. Dr. Bruno Benigno
Uro-oncologista
CRM 126265
Urologista do Centro de Urologia e Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz - SP
Fundador da Clínica Uro Onco - SP
Fellow em Oncologia e Cirurgia Robótica pelo AC Camargo Cancer Center - SP
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F: (11) 2769-3929
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1. Braga SFM, de Souza MC, Cherchiglia ML. Time trends for prostate cancer mortality in Brazil and its geographic regions: An age–period–cohort analysis. Cancer Epidemiol. outubro de 2017;50:53–9.
2. Coker TJ, Dierfeldt DM. Acute Bacterial Prostatitis: Diagnosis and Management. Am Fam Physician. 15 de janeiro de 2016;93(2):114–20.
3. Mayayo E, Fernández-Silva F. Fungal prostatitis: an update. Anal Quant Cytopathol Histopathol. junho de 2014;36(3):167–76.
4. Wu Y, Jiang H, Tan M, Lu X. Screening for chronic prostatitis pathogens using high‐throughput next‐generation sequencing. The Prostate. 12 de março de 2020;pros.23971.
5. Fonseca EKUN, Kaufmann OG, Leão LR de S, Tridente CF, Yamauchi FI, Baroni RH. Incidentally detected tuberculous prostatitis with microabscess. Int Braz J Urol. abril de 2018;44(2):397–9.
6. Hellig JC, Reddy Y, Keyter M, Du Toit M, Adam A. Tuberculous prostatitis: a condition not confined to the immunocompromised. South Afr J Surg Suid-Afr Tydskr Vir Chir. dezembro de 2019;57(4):43.
7. Zhang L, Wang Y, Qin Z, Gao X, Xing Q, Li R, et al. Correlation between Prostatitis, Benign Prostatic Hyperplasia and Prostate Cancer: A systematic review and Meta-analysis. J Cancer. 2020;11(1):177–89.
8. Nickel JC. Is chronic prostatitis/chronic pelvic pain syndrome an infectious disease of the prostate? Investig Clin Urol. 2017;58(3):149–51.
Muito obrigado! São informações muito importante e compartilharei este conteúdo com mais pessoas.
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